quarta-feira, 23 de agosto de 2006

A Nossa Efemeridade

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«A efémera tem uma esperança de vida de apenas um dia. Mas será que isso a preocupa? Nem um bocadinho, porque ela preenche esse dia com as coisas que mais adora.
Se calhar, nós que vivemos tantos anos temos algo a aprender com isto.
Pense um segundo...se aproveitasse a vida como a efémera, já imaginou como seria?!
Viva o Momento...»1

Existem poucas coisas na vida que nos fazem parar e pensar...e respirar bem fundo...e meditar...e olhar em redor...e respirar bem fundo...e pensar... e respirar bem fundo...e mudar?!

Duas coisas possivelmente tão antagónicas quanto analógicas...a felicidade ou a tristeza.

A felicidade, transporta-nos por entre arco-íris reluzentes, cores que nos enchem a alma, que nos preenchem o coração... A felicidade pode transparecer num olhar, numa aura radiosa, num sorriso magnífico... A mesma felicidade que se consegue quando o sol nos acaricia a pele, ou quando vemos um pôr do sol... Quando recebemos uma surpresa, uma boa notícia... se reparássemos bem, a felicidade está ao virar da esquina. Esse sentimento de êxtase que arrebata e emerge de nós para o mundo, numa partilha total e contagiante que se propaga qual vírus misterioso e transparente, inocente e eficaz.

Por outro lado, a tristeza...vil e cruel, muitas vezes vista ao passar na rua, ao ver alguém com o olhar cabisbaixo, também anda por aí à solta. É esta que nos remete para a introspecção e meditação. Julgo mesmo que serão caminhos estranhos que o próprio Universo nos faz percorrer para compreendermos algo que, de outra forma, estando nós emersos em êxtase, deixamos passar...não olhamos os «sinais». Gosto disto. Gosto dos «sinais»...qual caminho antes trilhado que percorremos sem saber, com um mapa pré-traçado em busca de conhecimento previamente estabelecido num rumo que lixa o nosso diamante em bruto, numa busca de perfeição espiritual?!

É esta tristeza, tantas vezes experienciada, por tanta gente, que vai mudando o rumo do mundo...inspirando, expirando...depende do ponto de vista. Música, poemas, vidas...expostas a este sentimento, vivido ao máximo, expoente do eu mais interior, transposto em linhas que ficam para a prosperidade...

É este sentimento que nos remete para nós mesmos e para a nossa condição...de pequenos seres perdidos por entre milhares de milhões de estrelas num Universo infinito (ou não)...

Julgo que é a perda que mais nos faz meditar. Na minha [diria curta] vida, já passei por estas perdas...já vi muitos conhecidos, amigos, familiares... padecerem por coisas ridículas, seja acidentes de automóvel, de mota, doença, etc. não interessa. Jovens cuja vida foi ceifada tão cedo...e outra novamente esta semana...

E que me faz realmente pensar...

Nunca estaremos à espera...e na nossa juventude, esse pensamento de término (ou não...) raramente nos passa pela cabeça, possivelmente porque com a nossa idade sabemos que haverá sempre um novo dia amanhã... No entanto, quando algo assim nos arrebata caímos em nós. Percebemos a nossa própria efemeridade. E então, muitas vezes, das duas uma, ou vivemos ao máximo ou temos medo de viver...?!

O interessante e julgo que o mais importante encontra-se numa frase que me disseram: «o nosso corpo é como uma concha que aloja o nosso espírito. Que temos a obrigação de cuidar e nutrir para que este possa crescer...». Não vos faz algum sentido?! Temos uma responsabilidade para connosco próprios. Viver não significará (somente) a aventura ao máximo, o que levamos (possivelmente) desta vida é também um espírito nutrido, é isso que de mais valioso temos. Não será? Como o conseguimos...isso é mais difícil. Cada um tem que crer que a banalidade da vida não se resume a isso, à banalidade. Cada um tem que crer que crer é poder (não, não me enganei.). Cada um de nós tem que fazer essa tal introspecção, muitas vezes difícil, diariamente difícil, mas que no fundo também nos remete para uma evolução do próprio ser. Reflectir em nós é perceber o melhor e o pior que temos, e ninguém gosta de ervas daninhas na sua própria casa. Mas mudar é aquilo que para nós, seres humanos, também é mais difícil. Daí que, possivelmente, também tenhamos que aprender da pior forma. Muitas vezes só após cairmos nos conseguimos levantar, e com mais força...

Isto tudo porque... bem, realmente é difícil conceber a nossa delicadeza enquanto seres, a nossa pequenez, a nossa efemeridade no universo...e o facto de que temos tanto para fazer e aprender em tão pouco tempo. Devemos saborear ao máximo felicidade, vivê-la todos os dias, transmiti-la, acreditar nela, sonhar com ela! Pena é que muitas vezes sejamos obrigados a meditar na tristeza. Mais vale tirar uns pequenos minutos do nosso dia e aprender por nós mesmos... Afinal, para alguma coisa haveremos de andar por aqui...

Viver o momento...


1 - Anúncio da Vodafone. Para quem quiser ver mesmo o video por não se recordar pode clicar... http://www.youtube.com/watch?v=-jWOuIs5X6w

1 comentário:

João disse...

Temos uma escala temporal desequilibrada que nos faz percepcionar um momento como se ele durasse uma eternidade e outro como se passasse num ápice. Enquanto estivermos dominados por uma ideia de um Tempo que não assimilamos e acabamos por perder nas alturas menos próprias, não vamos conseguir aproveitar plenamente a vida que pretendemos.

Mas posso estar enganado, existem concerteza pessoas plenamente conscientes do aproveitamento que fazem do Tempo e que vivem de consciências tranquila para com as suas vidas, só não sei se as devemos admirar ou ter pena delas.