domingo, 28 de novembro de 2010

Prestidigitação


Meu coração tardou. Meu coração
Talvez se houvesse amor nunca tardasse;
Mas, visto que, se o houve, houve em vão,
Tanto faz que o amor houvesse ou não.
Tardou. Antes, de inútil, acabasse.

Meu coração postiço e contrafeito
Finge-se meu. Se o amor o houvesse tido,
Talvez, num rasgo natural de eleito,
Seu próprio ser do nada houvesse feito,
E a sua própria essência conseguido.

Mas não. Nunca nem eu nem coração
Fomos mais que um vestígio de passagem
Entre um anseio vão e um sonho vão.
Parceiros em prestidigitação,
Caímos ambos pelo alçapão.
Foi esta a nossa vida e a nossa viagem.

::
Fernando Pessoa::

2 comentários:

Anónimo disse...

Intenso me perdi,
Maus caminhos decidi,
Puta do coração que decidiu,
E no final tudo partiu!

Mas imagine-se...
O coração rejuvenesceu,
Como se quando se partiu, ele sempre soubesse,
Na sua estranha forma de Ateu,
Que a vida divina não desapareceu.

E ali surgiu coração,
De novo pronto para aprendar a amar,
Coisa novamente repleta de emoção,
Que coloca muita força de viver em cada parte do respirar!

E ali surge o antigo novo coração,
A espera de descansar numa mão,
Mão que o acarinhe e o descanse,
E que acalme o seu bater trovante,
Com um doce beijo de um amor, que seja também sua amante!


Alfredo Fernandes

MoonnooM disse...

Lindo! =)
OBrigada!